11 novembro 2012

bolo de fubá

Estava num ônibus no caminho pra casa da minha avó quando li:

"Com massa simples, feita de ovos, manteiga e farinha – ingredientes que não envelhecem –, os bolos caseiros viraram febre em São Paulo. As casas especializadas no doce se multiplicam pela cidade com um esquema de venda parecido ao das confeitarias do passado: o cliente compra o bolo e o leva para comer em casa".

Achei bacana a ideia. Às vezes dá uma vontade de comer um bolo simples, de fubá ou de laranja, mas não sobra tempo pra fazer.

Só que o autor do texto da revista foi além:

"O sucesso das lojas tem a ver com o resgate dos alimentos com tradição, uma tendência no mundo gourmet. “As receitas retrô remetem ao conceito de comfort food, bastante em alta, que nos transfere a um ideal de ternura e de felicidade da infância”, afirma Sandro Dias, professor de história da gastronomia do Centro Universitário Senac".


Daí eu comecei a sentir peninha das pessoas. Imaginei um senhor de meia idade, de terno e barba feita, já meio careca entrando na confeitaria. Ele afrouxa o nó da gravata e pega sua porção semanal de ternurinha. Vai pra casa, come o bolo com café solúvel e pensa que é feliz.

Eu acho que o grande mal cotidiano é essa mania que a gente pegou de querer glamourizar tudo. Querer poetizar o que, por natureza, já é poesia.

Cerveja no fim de tarde de uma sexta-feira por si só já é uma coisa linda, digna de alegria. Não precisa ter notas suaves de café ou cereja, não precisa que alguém comente com que tipo de carne aquela cerveja vai harmonizar.

Bolo no café da manhã é gostoso. Feita pela avó, é um sonho. Se não tiver avó por perto e o bolo for comprado na padaria, também vai ser gostoso, com boa companhia então: só melhora. Daí os especialistas querem dizer que o bolo de fubá é um tipo de comfort food. Por favor, meu queridos, não estraguem a poesia. Não glamourizem a simplicidade.

Tive pena de quem precisa de "comfort food" para sentir a ternura da infância. Eu ainda fico na dúvida: estamos bobos a ponto de comprar essas ideias estranhas que as pessoas criam pra vender produtos, ou  os bobos são os que ficam tentando inventar história pra pôr mais poesia no cotidiano, talvez porque a eles ainda falte um quê de poesia? Relacionar bolo de padaria com ternura de infância, façam o favor meus senhores! Da minha ternura cuido eu, não me venham vender ideias.

Torci pro motorista do ônibus pisar fundo pra eu chegar logo na casa da minha avó, dar um abraço nela e ter certeza de que a simplicidade continua sendo uma coisa simples. Porque felicidade é igual bolo de fubá: bom mesmo é quando é feito em casa.

2 comentários:

Thiago Rocha disse...

Muito bom!

Anônimo disse...

Eu sempre peco delivery de algum bolo, ou quando passo por alguma padaria compro, porque na minha casa adoramos os doces e sempre temos algo na geladeira.