28 dezembro 2007

Nostalgias minhas

Perdemos Ayrton Senna, Frank Sinatra, Paulo Autran, Chico Mendes.
Perdemos a malandragem carioca.
Perdemos o medo de assalto.
A vergonha na cara, também perdemos um pouco.
E perdemos um muito da floresta amazônica.
Mas uma das maiores perdas dos últimos tempos, em minha opinião, foi algo sutil, que aparentemente causou pouco abalo: o hábito de escrever cartas.
Eu, que passei pela transição carta/e-mail, não poderia deixar de sentir uma dorzinha nostálgica. Eu sei o que significa essa perda. Sei o que é errar e rabiscar, rasgar, beijar o papel, escolher selos e – alegria das alegrias – esperar ansiosamente pela chegada do carteiro.
Até meus quinze anos, sempre escrevi cartas. Tinha amigos distantes pois, devido ao trabalho do meu pai, mudávamos muito de cidade. Assim, amigos ficavam e saudades vinham. E, pelo que me lembro, até 2000, internet ainda não era tão comum. Pelo menos aqui nesses interiores.
Então, para matar a saudade, escrevíamos. Mandávamos fotos, presentes, lembranças, beijos de batom cor-de-rosa e marcas de lágrimas no papel. E aguardávamos ansiosos pela resposta.
Havia até – não sei se ainda há – nos gibis da Turma da Mônica, uma página cheia de endereços de leitores que queriam fazer novos amigos. Escrevíamos e eles respondiam. Lembro-me das inúmeras tardes que passei sentada em frente ao portão aguardando a ilustre presença do carteiro. E ele me trazia tantas coisas, tantas pessoas: letras corridas, redondas, rabiscadas, tintas coloridas, beijos, fotos, histórias.
Depois, eu respondia e, calculada a distância, sabia que teria entre uma e duas semanas de espera até a próxima carta.
Hoje é tudo muito rápido. Não há a ansiedade, a espera e a curiosidade. Tudo sana-se em uma página: de cara sabemos como é nosso novo “amigo”, de que gosta, o que faz, o que odeia, etc.
O contato com pessoas de longe virou coisa rotineira: estamos no orkut, de repente nos deparamos com um rosto conhecido perdido em página alheia, descobrimos o velho amigo, que alegria! Trocamos scraps e e-mails emocionados, cheios de novidades: “Como vai? E a família? Meu Deus, sua irmã ta enorme!”. Adicionamos o amigo no msn, conversa vai, conversa vem e um dia ele vira só mais um contato on-line. Você vê ele lá, mas não tem o que falar, porque já perguntou tudo o que tinha que perguntar e, como não participa da vida dele, vocês não tem mais assuntos em comum.
Eu mandei e recebi muita carta (e hoje ainda escrevo algumas!). Li muitas histórias, porque, entre a chegada de uma carta, a formulação da resposta, o envio e o recebimento de outra, muita coisa acontece.
Fico triste quando penso que meu irmão não vai saber o que é a emoção por trás de uma letra tremida, ou a alegria que é ver o rapaz de azul e amarelo dobrando a esquina. Acho que acabamos perdendo também um pouco do romantismo.
E quem quiser me escrever, que fique à vontade para pedir meu endereço. Eu juro que respondo. E com direito a letra emocionada, rabisco entre parênteses e beijo no final.

8 comentários:

Theo disse...

=********
ja te mandei cartas
dona da casa na rosa sutti da silva
xD
=*

Gabriela Gomes disse...

Ah, caramba!

Eu nem escrevi muitas cartas nessa vida. Mas tenho saudades das poucas. E as escrevi quando já tinha acesso a Internet... talvez, porque faziam com que me sentisse mais perto do destinatário.

Outras vezes, sentia necessidade de imprimir alguns e-mails que recebia. Aliás, guardo até hoje 2 pastas lotadas deles.

Eu tenho saudades dessa espera gostosa. Tenho saudades de quando o tempo não parecia tão corrido como hoje.

Aproveito pra desejar um ótimo 2008! Com muita saúde, amor e paz. E cartinhas também! =)

Um beijo.

K.C disse...

se eu te contar que fui - ou talvez ainda seja - uma daquelas adolescentes bobas pra chuchu que escrevia carta pra deus e o mundo, e que tenhu uma caixinha cheia das cartas recebidas vc acreditaria?! Pois eh...sem falar nos famosos papeis de carta, uh, vc só poderia gastar um deles com alguém bem importante rs.
Impossivel controlar os clichês perante um papel e uma caneta!

Anônimo disse...

Eu já estava voltando à realidade (à minha falsa realidade), pensando em como comprar roupas e viajar pra longe se saísse do trabalho.
Mas vim aqui e lembrei-me de como a vida é muito maior do que essa vidinha de merda que eu estou construindo pra mim. E que sinceramente, não me faz feliz. Lembrei-me da vida sem TV, dos livros que tenho pra ler, dos filmes que tenho pra assistir.. mas a vidinha de merda me roubou todo o tempo.
E sabe o que é mais triste? O telefone tocou.. e me fez lembrar da realidade. E eu volto pra tela do computador cheia de planilhas abertas, que me dão dinheiro pra comprar roupas novas.

Anônimo disse...

E quanto às cartas, também sinto uma falta enorme!
Não me lembro quando foi a última que recebi!
Mas me lembro sim da ansiedade que eu ficava quando chegava em casa e ia até a portaria ver se tinha alguma coisa pra mim.
E cá entre nós, confesso que isso às vezes ainda acontece. Cada vez que vou até a caixinha dos Correios, espero encontrar um envelope escrito à mão com o remetente: Juliana Maranho.

Saudade! das cartas e de você! =)

Beijooo

Luan Iglesias disse...

Tudo bem, Carol! Você me comoveu! Me adicione no orkut que eu lhe passo meu endereço, e assim trocamos cartas. Só não repare em minha letra, se conseguir entendê-la é claro.

Beijos!

PS: Eu ainda continuo escrevendo e recebendo cartas!

Unknown disse...

me passa seu endereçooo!!!! \o/

Morganna disse...

isso que digo que foi nostálgico. deu uma saudade fininha em mim.
eu também mando e recebo cartas. poucas é verdade, mas são valiosas que eu nem sei dizer o quanto. *.*

p.s.: bora trocar cartas? :~