- Vou comprar cigarro.
Soninha não respondeu, concentrava-se no trabalho de cortar cenouras para o jantar e ainda ouviu a porta batendo antes de pensar na incoerência do que acabara de ouvir: Jorge não fumava.
Com paciência, enxugou as mãos no avental e pensou em correr até o portão, mas as crianças estavam famintas. Sentou-se pensando em chorar, mas ponderou-se e voltou aos legumes.
Serviu a mesa como sempre, com a mesma quantidade de pratos. As crianças repararam: - Cadê papai?
A resposta veio seca e curta:
-Saiu.
Os pequenos entenderam e voltaram a comer, em silêncio.
A novela das oito acabou, o programa de depois acabou. O livro que Soninha lia também chegou a fim exatamente à 1:43, e Jorge não voltou.
Soninha preparou café, fez almoço, lavou, passou, fez janta e nada de Jorge aparecer. Assistiu TV, começou outro livro, levou as crianças na escola, limpou casa, comprou roupa, dormiu, acordou. E nem sinal do desaparecido.
Foi assim toda a semana. E a semana de repente já era um mês sem Jorge. E Soninha, naquele dia, resolveu colocar um prato a menos na mesa. Depois resolveu que tinha que ter mais espaço para suas coisas naquele armário: tirou algumas camisas de que não gostava muito e deu de presente ao seu irmão. Os sapatos, jogou fora, estavam gastos demais.
Resolveu então que compraria aquele disco que Jorge nunca lhe deu. E comprou, colocou na vitrola e dançou sozinha. Resolveu depois que iria pintar o cabelo: coisa que ele não permitia. Pintou e percebeu que se comprasse aquele vestido vermelho, ficaria mais bela ainda. E comprou.
Um dia, enquanto dançava com seu vestido ao som daquele bolero, a porta abriu e Jorge apareceu. Estava magro, barba por fazer, camisa gasta. Abraçou Soninha e chorou. Ela parou a música, não fez pergunta, não sorriu nem soluçou.
Tirou o vestido, foi pra cozinha e preparou um prato enquanto Jorge tomava banho.
Ele pediu desculpas, se lamentou, tentou se explicar. Ela, da mesma forma como não se comoveu com o retorno, também pouco sentiu com aquelas explicações.
No dia seguinte, Soninha saiu para levar as crianças ao colégio e Jorge levantou-se logo em seguida para o café. Para sua surpresa, o café e o pão não estavam ali. A única coisa que havia sobre a mesa era um bilhete embaixo de umas quatro ou cinco moedas. Dizia: Aqui está o dinheiro do seu cigarro. Vá comprar que eu fico bem.
3 comentários:
aaaaaaaaaaaaaaaaaaa q bobo caaaaaaah
ta
nao eh bobo
mas eh chato
=/
saber
q mulheres sao tao independentes
que conseguem se virar
=(
hahahahaha. Adoreeeeei!
Mas existem algumas pessoas que ao sairem da nossa vida fazem um certo favor. É verdade, que muitas vezes nos falta discernimento pra compreender isso. Mas, realmente, há 'males' na vida que vêm para o bem. =)
E quanto ao inferno astral, é um ciclo que se fecha. Normal que fiquemos mais sensíveis. Só dá pra saber o que é bom, quando se conhece o "ruim". ;)
Beijos.
E quantos Jorge's como esse existem por aí? É a mais pura realidade. Admiro esse lado feminino. Passei aqui por acaso, e agora acaberei voltando.
Um abraço.
Postar um comentário