12 janeiro 2015

Mes chagrins, mes plaisirs



Eu estou triste por passar 2015 longe do Brasil. Já não bastassem os vários feriados e a reprise de “o rei do gado” no vale a pena ver de novo, tem também turnê da Maria Bethânia. E é turnê da Maria Bethânia cantando “je ne regrette rien”, uma das músicas mais bonitas que alguém (no caso, o francês Michel Vaucaire) já escreveu. 2015 vai ser um ano gostoso para se estar no Brasil, e eu estarei longe.


Tem feito calor todo dia, tem praia, tem piscina, tem os amigos e a família e todo o amor do mundo nos braços deles. Lá do outro lado faz frio, o dia dura poucas horas, a comida não me agrada e tem saudades. Eu poderia ficar por aqui, cancelar a passagem, pedir aos amigos de lá que me enviassem as tralhas que deixei, procurar um emprego no Brasil, voltar para o jornalismo, começar de novo, alugar apartamento, ser feliz. Mas eu me apaixonei.


Toda vez que estou de partida eu me apaixono. Aconteceu quando eu me despedia do Brasil. Aconteceu agora, na minha despedida da Irlanda.


Eu sou racional para muitas coisas, como não comer doce de barriga vazia porque sei que me faz mal, ou não tomar sol no rosto apesar de amar o sol. Mas a gente sabe que razão e paixão - dessas que envolvem uma outra pessoa que meio que se encaixa naquilo que a gente sonha - são antônimos.


E então eu, que estava vindo sem passagem de volta para lá, que deixaria para decidir depois, que iria inconscientemente esperar que o Brasil me convencesse a ficar, eu que deixei tudo meio no jeito para o caso de alguém precisar vender as minhas roupas de frio, eu vou voltar.


Tenho um amigo que também está de mudança. Nos encontramos no fim de semana e ele falou: tô igual você, resolvi arrumar um amor por aqui bem agora que vou embora. Ele me mandou o vídeo da Bethânia cantando je ne regrette rien. Ele vai vê-la, eu não. Mas ele sabe que ela canta para nós.

Para a gente que se apaixona e faz tatuagem, que abandona faculdade, troca de emprego, larga família, cria desafetos, bebe demais, escreve cartas, textos, mensagens, compra passagem, a gente que não se arrepende de nada, mesmo.

Um comentário:

Gabriel Duarte disse...

Achei a coisa mais sublime, em especial o último parágrafo. Me li ali, enquanto, no vídeo, Bethânia declamava que não se arrependia de nada. Também estou juntando minhas lembranças para acender uma fogueira. Sem arrependimentos, de olho na estrada. Com o coração da vida na mão.