Não me saio bem em despedidas, independente do tempo que elas vão determinar até a próxima volta. Fosse breve ou adeus, queria eu poder sempre sair à francesa: olhar de longe os que se abraçam e ir embora pela porta dos fundos.
Ironicamente, minha vida é feita de despedidas. Morei em sete cidades, e em algumas delas mais de uma vez. Uma vida de idas e vindas, e de adeus, e de saudades. De todas essas cidades, a mais marcante foi Dois Córregos.
Foi lá que eu cheguei numa manhã fria e nublada, no dia em que os Mamonas Assassinas morreram, e não bastasse essa tristeza, eu chegava de mudança sem conhecer ninguém, sem saber onde seria minha casa, quem seriam meus vizinhos, como seria a escola.
Hoje eu olho as roupas, móveis e tranqueiras nas caixas para a derradeira mudança dos meus pais e penso que a cidade que me recebeu com chuva e dia triste só me trouxe alegrias. Foi lá que eu passei tardes caminhando nas ruas quando não tinha mais nada para fazer; matei aula para ficar na praça da escola; conheci meu primeiro namorado; tomei meu primeiro porre; chorei por amor pela primeira vez; tive as piores - e mais ridículas - brigas com meu irmão; sentei na calçada para rir, para chorar e só para falar da vida; foi de lá que eu sai com a mala nas mãos e sem olhar para trás para, pela primeira vez, ir morar longe dos meus pais; foi para lá que eu voltei quando resolvi deixar a primeira faculdade e foi lá que eu conheci amigos que sei que vão estar comigo para sempre.
E agora, com o coração apertado, é para essas pessoas, e para esse lugar e essa casa com portão de madeira e árvores na frente que eu olho. Assim, de longe. E vou embora quietinha, como se nada tivesse acontecido - mas com a alma cheia de boas lembranças e já transbordando saudades.
4 comentários:
Minha linda Carol sei que a distância nada interferirá em nossa amizade, porque o carinho e o respeito que aprendi a ter por você, são inabaláveis. Desejo que você e sua família sejam muito felizes no novo lar. Te amo.
Ps.: Continuará a ter um lar em DC (minha casa).
Michela Albano
Caramba, tive que dar aquela respirada no final do texto!
profundo...
Um dos melhores de todos, e olha que eu gosto de todos, rss
Bonito sem ser piegas, uma linha tênue em que poucos conseguem se manter sem atravessar
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