22 dezembro 2011

árvore de natal

Lá em casa era assim: meu pai colocava eu e meu irmão no carro e saia pelas estradas de terra. Quando via um pinheiro, parava, subia e a gente ficava lá de baixo dando as orientações: "esse aí", "não, aquele lá". Meu pai cortava o galho, levava pra casa e minha mãe enterrava num vaso. Depois, a gente ajudava a pendurar os mini-papai-noéis e estava pronta nossa árvore. Geralmente, ela morria antes do dia 25.

A Heloísa, minha irmã mais nova, nasceu bem no comecinho de janeiro de 1996. Então, no Natal de 1995 minha mãe tinha uma barriga enorme e todo aquele cansaço das grávidas em final de gestação. Foi nesse ano que ninguém saiu de casa pra cortar galho: minha mãe pegou um vasinho da varanda, enrolou os pisca-piscas e era aquela nossa árvore daquele 1995, de quando minha irmã estava para nascer.

Era época em que a gente morava na menor cidade que já vivi: seis mil habitantes. Eu não sei se vocês sabem como funciona isso, mas minha casa não tinha cadeado no portão, e o portão era só uma grade de frente com o gramado. O gramado ficava de frente com a varanda e na varanda ficava a arvorezinha improvisada com os pisca-piscas. A porta de entrada da casa estava sempre aberta: não tinha perigo de aparecer bandido, pensávamos nós.

Mas um dia minha mãe acordou e viu no chão da varanda só a marca do vaso da árvore de Natal. Pois sim, na menor cidade que nós moramos foi que roubaram a árvore de Natal mais mixuruca que já tivemos. Perguntamos pras crianças da rua, pro vizinho, pra empregada, pro dono da padaria, e nada.

O tempo não para por causa de árvore de Natal roubada e minha mãe foi trabalhar (pra quem não sabe, ela é professora). E foi lá, na única escola da cidade, ao lado da nossa casa, que ela encontrou a árvore, de pisca-pisca piscando em plena luz do dia, em cima da mesa da diretora, que já veio contando "Você viu que presente lindo eu ganhei!". Não era lindo e muito menos presente, explicou minha mãe, que no fim do dia chegou em casa com a árvore no colo. A gente soube, então, que quem deu o sumiço na árvore foi um vizinho nosso, que jogava video-game com meu irmão, que vivia no quintal de casa e que, na surdina, entrou lá de madrugada, o danado do menino.

Era fim de ano, época da escola fechar as notas, e daí ele quis fazer um agrado pra diretora. Criança é tão inocente que acredita em Papail Noel e rouba árvore da professora para presentear a diretora achando que nunca vai ser pega.

era mais ou menos assim, bem bonita.