01 novembro 2011

3 de novembro

Amor de mãe não tem comparação com os outros amores que a gente arruma. Eu descobri isso - além das noites em claro enquanto eu estava com febre, na ajuda na tarefa de matemática e no dinheiro que ela empresta sabendo que não vai ter volta - foi nas festas de aniversário que ela fez pra mim. Eu sempre detestei aniversário: a data e a festa. E ela sempre fez questão de organizar tudo, todo ano, mesmo com a minha cara feia e o meu desdém. Sempre munida da esperança de um dia ser diferente e eu ficar feliz com os chapéuzinhos e as crianças gritando meu nome. Nunca aconteceu.

Eu não sei explicar de onde vem essa angústia com o parabéns pra você: a coisa é antiga. Na foto de 1987 estão lá todos os clichês: a mesa coberta de brigadeiros e beijinhos, as crianças batendo palmas de boca aberta, o bolo coberto de morangos, a vela acesa. No meio da cena toda, a criança de nariz escorrendo chora no colo da mãe: sou eu.

Na memória eu guardo duas situações: eu andando pelas ruas da cidadezinha junto de mais três meninas. Cada uma de nós com dois corações de isopor nas mãos, todos eles cobertos de gliter vermelho. Eu caminho irritada porque o gliter ia desgrudando do isopor e caindo pelo caminho. Minha mãe esperando em casa para arrumar a festa. Eu, me sentindo incompetente por não dar conta de dizer não e ainda deixar o gliter do enfeite cair. E foi isso que ficou na minha memória: o antes da festa e a irritação. Não lembro de ver, horas depois, os corações grudados na parede. Não lembro do bolo nem dos presentes.

Na outra situação, eu estava me divertindo numa festa. Segurava um copo de guaraná e esperava a hora de cortar o bolo. Então, do meio da multidão, surge minha mãe disfarçando o nervosismo: "Carol, seus convidados estão esperando!" "Calma, mãe, deixa só o Pedro cortar o bolo". Chega então a mãe do Pedro e fala com minha mãe, pra me deixar ficar só mais um pouquinho que já iam cantar o "Parabéns". Minha mãe explica que não dá, já está todo mundo em casa me esperando. A mãe do Pedro fala que então depois leva um pedaço do bolo pra mim e eu, contrariada, vou pra casa, que fica ali, do outro lado da rua.

Deve ser coisa de criança tímida essa minha repulsa: aniversário obriga a gente a ser o centro das atenções. Mas não tem jeito: ele sempre chega, e eu não posso viver negando. Esse ano tem bolo do lado da minha mãe. A ideia foi dela e eu, mais uma vez (porque nos últimos 6 anos tem sido assim), aceitei numa boa. Não é o aniversário que faz a gente crescer, mas é quando ele chega que a gente vê que isso aconteceu. Pelo menos no meu caso.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nunca sei se é ficção ou realidade. No segundo caso, feliz aniversário.
Adorei

Lu

Anônimo disse...

Nunca sei se é ficção ou realidade. No segundo caso, feliz aniversário.
Adorei

Lu