27 setembro 2011

Com quantos anos você vai se casar?

Quando eu era criança existia entre as meninas da escola uma brincadeira assim: desenhávamos numa folha de papel um quadradinho. Dentro do quadrado, colocávamos a idade com que queríamos nos casar. Do lado de fora, rabiscávamos em cada lado três linhas perpendiculares ao quadrado e paralelas entre si. No lado esquerdo, colocávamos três adjetivos: bonito, gentil, educado. No direito, três opções de número de filhos: 1, 2 e 3, por exemplo. O número dentro do quadrado regia o resto da brincadeira. Se fosse 22, colocávamos a ponta da caneta no primeiro adjetivo e íamos pulando de um em um até chegar ao número 22. O adjetivo ou número de filhos sorteado era riscado, e então repetíamos o processo até que restasse de um lado somente um adjetivo, e dou outro apenas uma opção para o número de filhos. Pronto, estava desenhado no papel nosso futuro: aos 22 anos, a dona da brincadeira estaria casada com um homem bonito (ou gentil, ou educado) e teria 3 filhos (ou 2, ou 1).

No meu quadradinho, o número central era sempre 18. Às vezes, 20. Era assim que funcionava quando eu era criança: olhava para o futuro e me via aos 20 anos casada, grávida e feliz.  Hoje, quando me lembro disso, ficam claras para mim duas coisas: que meu espelho, naquela época, era minha mãe (que se casou aos 18); e que eu errei feio.

Aos 25, o mais perto que cheguei de um casamento foi um namoro de quatro anos com direito a escovas de dente compartilhadas; e o mais próximo de ter filhos foi uma pílula do dia seguinte comprada às pressas às onze da noite. Hoje eu sei que a vida que eu levo cabe perfeitamente naquilo que eu sou, e eu combino perfeitamente com a vida que eu levo.

Mas tem dias que eu fico pensando: será que a Carol com um marido bonito e um filho de 5 anos não seria feliz agora? Afasto bem rápido esse pensamento porque sei que é bobagem: essa Carol hipotética estaria agora imaginando se a Carol jornalista que considera maturidade poder comprar danoninhos e comer quantos quiser num mesmo dia não seria também feliz. E é. Ponto.

Longe das reflexões acerca de felicidade, eu vou agora escrever “80” no meio de um quadradinho, de um lado colocar número de netos, e do outro escrever: morte, Alzheimer e grupo de ginástica da terceira idade. Ver o resultado e torcer para que seja  diferente.

2 comentários:

Bete Nunes disse...

Amei!!É o que conversamos hj, né Carol... Eu fiz esse joguinho várias vezes!!!kkkk...pra mim tbm não rolou, viu!!rs.

Carol Pretti disse...

Carol, não me canso de ler tudo o que voce escreve... seja aqui, no Desamélias, no twitter...
Vc sempre "chega", seja no meu pensamento, sentimento, coração, no meu passado e me deixa rindo, pensando, refletindo e imaginando.
Vc manda muito bem, sempre!