07 julho 2010

Vário do Andaraí


Mas toda essa história no post aí de baixo é pra dizer que eu tenho muita sorte de estar no lugar certo e na hora certa. E que o lugar certo também depende do ponto de vista, porque veja bem, muita gente estava incomodada com o que pra mim era alegria, mas isso não vem ao caso.
Acontece que sei lá se é pelo lugar certo, pelo momento certo, ou por uma conjunção de tudo isso aliado à posição dos astros, eu tenho muita sorte de cruzar no caminho com gente interessante. Acontece na rua, no ônibus, na escola. E aconteceu na internet algumas vezes, e em uma dessas eu conheci o tal do Vário do Andaraí. Como foi que se deu esse conhecimento o próprio explica aqui.
E aí que por meio do Fabiano, e depois da Camila, o “A Máquina de Revelar Destinos não Cumpridos” veio parar nas minhas mãos.

Se o Vário me permite, e eu vou fingir que ele já permitiu, cito aqui um trecho do livro:

“Que culpa tem Graham Bell das inhacas do coração? Nenhuma, diria a lógica. Ora, muito se penou pelas incomunicabilidades do amor bem antes de este Bell senhor ter inventado a máquina de fazer angústia.
Mas nos tempos do onça, quando não havia ainda o celular e os aflitos se missivavam, caso a carta não chegasse ou atrasasse, o coração esperançava-se com a possibilidade de uma pata quebrada do cavalo postal ou precariedades afins”


Aí que o Vário é taxista e escritor, entre muitas outras coisas que uma pessoa pode ser, e se tem uma coisa que eu admiro é gente que saber ser mais de uma. Eu não sei se o táxi é pretexto pra arrumar histórias, ou se as histórias são pretexto pra dirigir um táxi, sei que a prosa é boa. Guardei o livro pra ler numa viagem de ônibus. Folheei enquanto esperava na rodoviária e quando o ônibus estacionou só me faltavam poucas páginas para o final. A coisa é sem rodeios, faz rir e faz pensar na vida. Brega, né? Pois é, o Vário sabe bem ser brega também. Mas é nessa quase breguice, nesse sentimentalismo de buteco, nessa conversa de taxista que dura quinze minutos, meia hora, que está toda a graça. Porque, meu bem, se você quer ser fino e falar difícil periga perder muito tempo treinando, quando se pode simplesmente falar e encantar pelo meio do caminho: a vida é isso que passa pela janela, e é nessa banalidade toda que acontece poesia, graça e desgraça.
Eu me permito terminar esse post com outro trecho, uma coisa tão bonita que...quando a coisa é bonita demais, ela fala por si mesma.

“Numa dessas madrugadas de ruas dormidas, voltando do Recreio dos Bandeirantes (lá ele criou e promove um pagode somente por causa do nome do bairro porque “um bairro com este nome tem que ter uma roda de samba que se faça ao jus da história”), com sua voz narcotizada de si mesmo, detalhou: “o cara é médico, sargento, advogado, servente, o tento que tente, ele se mata, inventa tempo, negligencia a família, a filha, atrasa compromisso, ganha fama de omisso, desanda os protocolos e os torcicolos pra jogar sua pelada... Todo moleque quer ser jogador de futebol; não conseguindo vira sonho de menino velho. Com a música, dá-se no mesmo puxo: o cara é do hiphop, do pop, do fagote, da glote...Sempre acaba num pagode, invejando a rapaziada da cozinha, em linha, e arruma uma cuíca, um pandeiro, um repique e decora velhos sambas de terreiro...quem não queria ser Élton Medeiros?”


Eu tenho mesmo muita sorte.

3 comentários:

Vário do Andaraí disse...

Meu obrigado lá em www.variodoandarai.com.br

Valeu !!!!!!!!!!!!

VetAgro disse...

Penso q tb tenho essa sorte de tê-la conhecido!! grande abraço! Grande amiga!

Michele Matos disse...

Tudo indica que o taxi dele é uma máquina de inspiração.
=)