05 julho 2010

eu bato palma pra louco dançar

Eu tenho muita sorte com cenas inusitadas, e esse mundo anda tão inusitado que eu não sei como pode haver gente que vive de mau-humor, olha só.

Hoje inventei de esperar o ônibus às 6 da tarde, e nesses horário sabe como é né, tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais, tem gente que veio só olhar. E aí, do meio da multidão de trabalhadores, estudantes e mulheres com sacolas e bolsas surge ninguém menos, ninguém mais que o maluco. Toda cidade, toda vila e toda aglomeração tem o seu e eu dei muita sorte de hoje encontrar um dos bons.

Eu nem sei bem se era maluco, pois com a vida como tá quem sou eu para julgar lucidez, mas vamos lá. Magro, uns 30 anos, roupa suja, sandália de couro. Como maluco responsa – vou chamar de maluco, ok? - que é, já chega roubando a cena. Escolheu o ponto exato, aquele vazio no meio da multidão, e começou o espetáculo.”Se tem alguém aqui que fez aniversário hoje e não ganhou parabéns, não fique triste. Eu estou te dando parabéns. Desejo,do fundo do meu coração, que o seu dia seja lindo”. Depois, claro, pediu moedas. “Você, moça, parabéns. Agora pense em mim, que fiz aniversário hoje e não ganhei nada. Me arruma uma moeda pra comprar uma Tubaína”. E a moça fechava a cara, a outra também. Uma senhora dava dinheiro só para ele se afastar logo.

Eu me divertia muito com aquilo tudo, porque cada gesto e cada palavra eram teatrais, lembrando uma imitação muito bem feita – e não vou dizer exagerada, porque eles são naturalmente exagerados – de um pastor de igreja evangélica. “Deus te abençoe”, seguia ele. “Pensa no pobre irmão que nenhum presente ganhou”.

E aí, no meio do discurso – porque a vida imita a arte, sim senhor – encosta um ônibus com um rapaz careca sentado na janela, ao lado de uma moça que bem não pude ver. Justamente nessa hora - que o destino não é de pisar na bola - o maluco da calçada olhava para o ônibus que parou. Deixou os agradecimentos a Deus na metade porque na vida dele acontecia, naquele instante, algo mais importante.

Ele correu pra baixo da janela do careca, deu dois tapas na lataria do ônibus, jogou as mãos na cabeça, desacreditado “Saaapooo! Caaaaraaaalho, é o Sapo, velho. Casou, rapaz? Tá noivo? Tá noivo!” E compartilhava com as pessoas do ponto de ônibus, ainda que ninguém desse atenção: “O Sapo tá noivo, cês viram? Tá noivo, filhadaputa!”.

O ônibus partiu levando o Sapo e a noiva, e o maluco continuou, e contou para quem quisesse ouvir que o Sapo era o melhor traficante que ele conheceu, o Sapo não tinha medo de matar ninguém, e olha só, o Sapo tava noivo! O Sapo encontrou Jesus. Saiu olhando pro chão, sorriso no rosto, balançando a cabeça. “Jesus faz cada uma...E eu?”. No sentido contrário vem um homem sério, brusco tira o cigarro da boca e lança pra si mesmo, baixinho, mas eu ouvi “Você tá aqui enchendo o saco”. E continuou amargo.

3 comentários:

Michele Matos disse...

Huahuahuahuahauha
Ai, essa liberdade pra falar o que der na telha...
Engraçada maluquez.
=***

elton disse...

Louco bom é louco solto! :)
Adorei o relato.

Evandro disse...

haahuahuahau... “Saaapooo! Caaaaraaaalho, é o Sapo..."
muito bom.