11 outubro 2009

Brilha, brilha, estrelinha...

"Se lhes dou esses detalhes sobre o asteróide B 612 e lhes confio o seu número, é por causa das pessoas grandes. As pessoas grandes adoram os números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: "Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que coleciona borboletas?" Mas perguntam: "Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?" Somente então é que elas julgam conhecê-lo. Se dizemos às pessoas grandes: "Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado..." elas não conseguem, de modo nenhum, fazer uma idéia da casa. É preciso dizer-lhes: "Vi uma casa de seiscentos contos". Então elas exclamam: 'Que beleza!'"

O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry



Semana passada, no programa do Jô, para minha surpresa e perplexidade, um dos entrevistados era meu ex-professor de física do colegial. O “seu Márcio” estava lá no sofá do gordo para falar de uma descoberta que fizera anos atrás: uma estrela. Pasmei quando vi porque eu já sabia da história de que aquele cara sério que me dava zeros com muito desdém havia descoberto uma estrela. Era um dos comentários do colégio desde o início dos anos 2000 (que pra mim ainda parecem estar logo ali e já se foram 9 primaveras). Santo de casa não faz milagre mesmo! Eu não levava a sério quando diziam que aquele homem que falava de números como quem passa uma receita de bolo havia sido procurado pela NASA. E, ainda que ele trouxesse uma foto e o registro em cartório do nome da estrela, com o nome dele na parte em que se preenche “filiação”, eu não me surpreenderia. Acontece que, além de santo de casa não fazer milagre, eu, até semana passada, pensava que descobrir estrelas era a coisa mais comum – ou a maior balela – do mundo. Se você estiver numa pequena cidade do interior, e se for noite de lua, saia lá fora e olhe para o céu. São muitas! É bem fácil um mané apontar uma, inventar umas coordenadas e dizer “essa estrela fui eu que descobri”. Quem vai falar que não? Quem vai falar “opa, meu rapaz, essa não. Essa estrela aí quem descobriu fui eu”
Daí, quando vi o seu Márcio no programa do Jô, falando da estrela, do observatório e da NASA, fiquei a pensar que talvez batizar uma estrela tenha lá sua importância para o futuro da humanidade. Comentei isso com um amigo e ele disse que sim, descobrir uma estrela é algo “mto foda” e que eu não tinha noção da importância. Então eu lembrei de quando meu namorado me disse, contente e surpreso, que uns caras de não sei de onde conseguiram fotografar a curvatura da terra (era isso mesmo?) colocando uma câmera em um balão. E lembrei também do meu total desdém com filosofias, invenções e descobertas, por que no fundo eu acho que tudo é uma questão de estar no lugar certo e na hora certa e de ter bastante tempo para pensar em uma coisa só. E que tudo que o homem cria é só uma forma que ele encontra para justificar sua efêmera existência nesse planetinha azul, perdido entre tantas estrelas, perigando explodir a qualquer minuto. E que nomear uma estrela é uma boa forma de sentir um pouco de domínio sobre algo que existe há muito tempo e que nunca precisou e nem precisará de mim, nem de você, pra continuar existindo e brilhando a milhões de quilômetros de distância - e pensei nesse vídeo aqui. Por final, achei louvável descobrir estrelas, porque enquanto eu escrevo este textinho inútil como forma de justificar minha pífia existência, pessoas podem dizer que aquela coisinha que brilha lá longe é sua descoberta e tem um nome que elas escolheram, apesar de aquela coisinha que brilha lá longe nunca saber que um dia teve um nome.


E, já que hoje é dia das crianças e eu citei lá em cima, deixo aqui "O Pequeno Prícipe" (com ilustração e tudo!) para quem quiser ler.

5 comentários:

Theo disse...

legal neh descobrir uma estrela, que provavelmente ja ta morta, e a pessoa que descobriu, alem de ser a primeira, soh viu a estrela agora, sei la, alguns bilhoes de anos depois dela morrer, o que eh mto comum!!! e sim somos tao insignificantes perto do resto do universo,e tao importantes porque esse eh o nosso mundo!! eh bem paradoxal e legal hehehehehehe bjos e parabens pelo texto

Tarini disse...

Aaaahhh... Eu não dou valor pras estrelinhas. Mas elas merecem ter um padrinho e um nome mesmo.
na minha adolescência li um livro tão bonitinha, "Estrelas tortas"... O conteúdo não tem quase nada a ver com estrelas, mas lembrei. Era tão bonitinho.

Michele Matos disse...

Ai, que droga...
Era eu ali em cima.
Não vi que tava logada a senha da Tarini, agora não sei apagar.
mas era eu, juro que era eu.

J.Silva disse...

tá aí um livro que me prometo ler há anos

VetAgro disse...

sempre tive vergonha de ainda não ter lido o pequeno príncipe, a carol resolveu isto pra mim. Adoro seus textos moça!!este foi ótimo!
parabens!