28 outubro 2009

Joga pedra na Geni

“Todo machista teve mãe”, disse uma vez uma menina na faculdade, com quem não tenho mais contato.
Essa frase veio a calhar quando fiquei sabendo do caso da menina que foi expulsa da Uniban por usar roupas muito curtas. A história vai além disso, mas como me deu preguiça de explicar, deixo aqui esse link. Lá tem um vídeo e a explicação do ocorrido.
Quando fiquei sabendo do fato, tremi, fiquei chocada, quase chorei e por fim tive vontade de chamar um por um dos caras que começaram com a cena toda de FILHO DA PUTA, em alto e bom tom. E não que eu acredite que as mães desses rapazes tenham sido putas - e caso tenham sido, isso não é problema meu. Eu só acho elas precisam de uma boa ofensa, para saberem que não tiveram sucesso algum ao educar seus filhos.
Eu sei que existem mulheres que não conseguem discernir muito bem uma roupa de trabalho de uma roupa de baile funk, mas penso eu que isso é um problema muito mais delas do que meu ou de qualquer outra pessoa. Eu sei também que um microvestido chama a atenção dos marmanjos na rua, que eles olham e assoviam. Isso é normal e toda menina que gosta de mini-saia sabe como funciona. Mas daí para os caras se juntarem e encurralarem a menina dizendo “vou te comer” há uma longa distância, que é mais ou menos a distância que separa a civilização da barbárie.
Eu penso que esses meninos que começaram com a palhaçada toda talvez, coitados, não tenham mães, nem irmãs e nem avós. Porque mulher é mulher, tem que ser respeitada como ser-humano, e não é porque ela está usando uma roupa insinuante que qualquer um tem o direito de estuprá-la.
A lógica desses rapazes – estudantes universitários! - é um tanto quanto equivocada. Assim fosse, um homem acusado de estupro poderia muito bem se safar da pena dizendo: “Mas a calça dela era tão justa. Ela mereceu”.
E então eu duvido que as mães, irmãs, tias e primas desses bons rapazes nunca tenham usado uma roupa que, pela lógica deles, justificasse um estupro.
Enfim, achei nojento, repugnante e revoltante a atitude daqueles meninos.
Mas o que realmente me causou revolta a ponto de criar este post é o fato de haver na cena muitas meninas gritando, rindo e chamando a garota de puta.
No momento em que as mulheres deveriam sentir nojo dos homens – homens que convivem socialmente com elas, homens que ameaçam estuprar uma menina que usa roupas curtas – elas se esquecem de que estão na mesma condição da acusada e se unem aos rapazes.
Eu não sei se tais garotas foram acometidas pelo instinto de demarcação de território – certamente muitas delas têm namorados, ficantes e paqueras ali na universidade – e por isso se comportaram como hipócritas inquisidoras.
Tenho certeza que qualquer mulher racional sentiu ódio daquela cena. São anos de luta pela igualdade jogados no lixo, porque se uma mulher não tem o direito de se vestir como deseja sem ser perturbada, então de nada valeu o que alcançamos até aqui.
E se mulheres, mesmo que instintivamente, apóiam atitudes machistas deste tipo, o que esperar dos filhos delas?
Eu já expliquei em um texto aqui nesse blog o que penso de mulheres que mostram o corpo. Acho que isso passa muito longe de subjugação ao sexo masculino. Penso que tem muito mais a ver com direito de escolha. Se a menina estava em trajes inadequados para aquele ambiente, caberia à direção da faculdade chamá-la para uma conversa. Isso é o máximo que se pode esperar de um caso desses. Nunca o que vi nos vídeos. Nunca por universitários, civilizados, que vivem no século 21. E jamais apoiado por mulheres que brigam por seus direitos e que desejam um dia ser respeitadas.
Precisa explicar porque o machismo – esse machismo sujo e nojento - está tão longe do seu fim?




Esse texto é um desabafo, cheio de indignação.O assunto rende muito mais, e pretendo escrever.

10 comentários:

Rosa disse...

eu só tinha lido sobre isso, não tinha visto o vídeo até agora. e eu concordo com você: o mais asqueroso são as mulheres fervendo com isso.
rindo, achando graça. A mina que filmou isso merecia lavar cueca freada de um distrito inteiro vestida de burca debaixo do sol.

E eu sou uma defensora da saia curta. Não consegui ver o quão nua a menina estava, mas entre bom senso de saber se vestir e ser transformada num pedaço de carne tem um abismo de distância.

nojo.nojo.nojo.

um beijo pra você, linda.

J.Silva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Ricardo disse...

Juro que comecei a rir quando vi a parte do vídeo que mostra a estudante saindo aos coros de "puta!, puta!".

Mas não por ver graça num linchamento verbal em praça pública, e sim por me dar conta de como o mundo ainda está repleto de homens e mulheres da caverna.

Inacreditável.

Vário do Andaraí disse...

Oi. Estive cá.

Tenho uma opinião um pouco dissonante do que li lá no blog e nos comentários ao post.

Parabéns,
Um abço

Nat Jonas disse...

Fiquei sabendo dessa história hoje.. e não falaria melhor do que o que você colocou no post.
Só acho engraçado como uma mulher andar nua no carnaval pode. E a menina usar minissaia não e a caracteriza como puta.
Tempos das cavernas.. é isso que é.

Cláudia disse...

"Mas daí para os caras se juntarem e encurralarem a menina dizendo “vou te comer” há uma longa distância, que é mais ou menos a distância que separa a civilização da barbárie."

Perfeito.

Thiago Brandam disse...

E olha que vai ter gente fazendo malabarismo retórico para explicar a situação ein...

VetAgro disse...

Acho que essa menina já deve ter aprointado varias na facu, não que isto justifique algo, mas isso não parece um caso isolado; impressionam mesmo as outras mulheres e meninas ajudando a hostilizar a coitada sem noção, aliás muitos estão dizendo aqui na net que o tumulto fora iniciado por um grupo de meninas. O Livro "Sem-noção" de lígia marques deveria ser leitura obrigatória nesta universidade!!

lívia disse...

Fiquei pasma quando ouvi sobre o caso, e ainda mais ao saber que garotas estavam envolvidas,sempre me surpreende a falta de solidariedade entre as mulheres...

O pior é que há vários comentários na net defendendo que a agressão era justificada e merecida. Como se alguma coisa justificasse esse tipo de comportamento.

Deborah Cabral disse...

Eu estou tão indignada com essa história que não consigo nem colocar em palavras o que sinto.

Não sei se essa menina já aprontou na faculdade antes, mas anda, ABSOLUTAMENTE nada justifica o fato.

E é muito estranho, num país de mulheres fruta, um vestido ser motivo para um "linchamento-estupro" coletivo.