21 agosto 2009

Meu caminho pelo mundo eu mesmo faço


Hoje meu pai veio com aquele papo que muita gente já ouviu “pai não dura pra sempre, é importante aprender a ganhar dinheiro, um dia você vai querer ter um bom carro...”. É aquela velha conversa que, se retirarmos os eufemismos, quer dizer “quando é que você vai arrumar um emprego e parar de gastar o meu dinheiro?”.
E daí, ele emendou uma história de “direito é um ótimo curso, hoje um promotor ganha tantos mil...você escolheu uma carreira difícil, precisa ser muito boa no que faz...” , que quer dizer, em outras palavras “esse seu curso – jornalismo – é uma merda e você será pobre para o resto da vida”.
Meu pai é um tipo conservador cabeça-dura, o que pode ser explicado pelo seu signo – aquário – para os mais místicos; ou pelo fato de ele ter virado pai e marido quando era ainda jovem, sonhador e despreparado para a vida dura. Essa é a explicação que serve para os que não estão nem aí para astrologia. Eu gosto de unir as duas e entender que meu pai é um aquariano que, aos 21 anos, sentiu a água bater na bunda e teve que aprender a nadar rapidinho. E como ele não veio de berço de ouro, jogou de lado os sonhos e foi trabalhar. No fim deu certo e hoje ele paga muito bem as contas dos três filhos quem tem.
Mas, depois dessa conversa, ocorreu-me que, excetuando os casos como o do meu pai, é coisa muito triste escolher profissão pensando no dinheiro. Meu pai disse que, sendo promotor, mesmo que você não goste tanto assim, é só agüentar umas horinhas todo dia que no fim do mês seu salário – um gordo salário – estará garantido e que, assim, você – no caso, eu – poderia, em pouco tempo ter um carro zero e viajar para o exterior duas vezes por ano. Para finalizar o discurso de pai desesperado, ele citou uns dois exemplos de pessoas que escolheram a profissão por paixão e que hoje se arrependem.
Eu, que sou apaixonada por cada coisa que faço, temi por todas as vezes que isso foi dito e ainda será dito a alguém. Eu entendo a preocupação que meu velho tem com meu futuro, mas esse é um discurso que não se faz. Eu sou forte e resisti a cada palavra negando com a cabeça – não argumentei porque eu não tenho argumentos contra os burocratas – mas pensei em quantas pessoas mais fracas não tiveram os sonhos destruídos. Quantos escritores, músicos, atores, professores, não estão por aí escondidos atrás de ternos, gravatas e carros zero. Sem falar que deduzir que o sonho de todo ser humano é ter um carro zero e uma casa luxuosa é de uma ingenuidade que me deprime.
Então, pai, entenda que o que eu quero mesmo é poder fazer o que eu gosto em todas as horas do meu dia, mesmo que o pão seja caro e a liberdade pequena, como diria Ferreira Gullar. A minha grande ambição nessa vida é poder entrar em uma livraria e comprar o que quiser e isso é coisa que o pífio salário de jornalista pode pagar. Eu não preciso de 20 mil por mês. Não nego, claro; se vier é bem-vindo. Mas não abro mão das minhas paixões por míseros 20 mil. Elas valem muito mais.
Talvez eu seja agora ainda muito ingênua. Mas coisa que se aprende nessa vida é que conselho não se dá, a gente precisa é aprender sozinho, andar com as próprias pernas. Se for o caminho errado, depois se acerta. Se não tiver acerto, é só chorar, e rir no final. O que não dá é viver a vida do outro, realizar desejos do outro, seguir conselhos do outro, porque senão não sobra tempo de realizar aquilo que é seu. Coisa que ninguém deveria esquecer é que isso aqui é uma grande brincadeira e no final se morre sem levar nada – clichê, eu sei, mas tem gente que esquece.
Então, eu acho mesmo que cada um deve fazer o que tem vontade, porque realização não se encontra só em coisas materiais ou em sucesso profissional. Os tempos são difíceis para os sonhadores, já disse Amelie, mas se a gente não se apegar àquilo que gosta, o que sobra é muito superficial e é um risco muito grande morrer com a sensação de que não se fez nada nesse mundo.

11 comentários:

Theo disse...

espero que esse texto cale as pessoas que falam demais do que os outros fazem! =)

Neto Verneque disse...

que texto hein, que textoo
eu tbm amo o q faco e nao trocaria por um trabalho do ql nao gostasse
e é mto bom fazer o q gosta e mesmo ganhando pouco, pelo menos ganhando nehh

nao eh cliche, é algo q sempre precisa ser renovado e dito d novo

repito: amei o texto
mto bom
que texto hein, que textoo

Unknown disse...

aaa carol sei bem do que se refere. Eu, que deveria ter me tornado um notável médico e ter meus 20 mil por mês, sou hoje um eng. com um décimo disso. Mas feliz, com minha liberdade, e minhas realizações pessoais em dia. rsrsrs Eng. Felipe Lima

VetAgro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
VetAgro disse...

Carol, não consegui discordar de nenhuma linha. Se analisar, Os Grandes, os genios, os extremamente habilidosos em alguma atividade AMAM oq fazem, Bill Gates adora programas e inovações tecnologicas, Silvio Santos respira seu trabalho, pelé treinava feito louco e dormia com a bola, Michael Jackson dizia que era preciso "sentir" a música e demonstrava isso dançando...
e vc tem o jornalismo correndo em suas veias, talvez não venha a ser uma Pélé do jornalismo, mas podera ser uma Ronaldo Fenomeno se continuar assim. Dos seu textos, foi oq mais gostei!
Aliás, meu pai queria que eu fosse advogado tb, sou Agronomo e Veterinario... e quem pode ser Advogado agora é meu irmaozinho mais novo...haha

anamariacorri disse...

Coisa de pai.... minha mãe queria q eu fosse médica... eu desmaio c vejo alguem aplicando a injecao na veia d outro ahuhuahuaa
Mas sabe... vc eh mtg boa no que faz pra deixar d lado p fz qualquer outra coisa...
Mais vale um gosto feito q um... esqueci o ditado... huauhahu mas vale mais vc fzer o q gosta do q ter dinheiro e ser infeliz, nao eh??
Eee nem pense por isso parar d escrever aki... eu preciso dos seus textos auhhuahua
=**

Vário do Andaraí disse...

É o bordão do Grande Sertão : "Viver é perigoso"

abço.

Beatriz Jucá disse...

Sei bem o que é isso. E também não consigo abrir mão do jornalismo. mas confesso a preocupação dos meus pais em relação a isso. E agora o pior é quando dizem que Jornalismo é uma profissão que qualquer um pode exercer. O nosso papel aqui é importante e deve ser feito por quem gosta realmente. Vamos resistindo por aqui e vivendo a vida que escrevemos nas colunas dos nossos jornais. Quem sabe não fazemos um trabalho de formiguinha e transformamos algo né?

Michele Matos disse...

Que texto heim! que textooo [2]
Sempre levei comigo essa frase da amelie...e concordo com tudo isso, não quero passar minha vida me estressando em ambientes de trabalho frios e sem vida...e sem comunicação.

Doug disse...

É isso ai mesmo... geralmente o pessoal mais velho, como nossos velhos, acha que durante boa parte da nossa adolescência e da vida adulta temos q nos preparar pra uma vida q vai começar mais tarde, mas a vida não vai começar mais tarde... ela começa qndo criança e a qualquer momento vc pode agarrar as rédeas. Parabens pela força de vontade.

Lê disse...

Caramba Carol, descobri seu blog há pouco tempo, mas virei fã.... não consigo parar de ler seus textos.... vc escreve bem demais, sabe como prender a atenção de nós, leitores! Amei esse texto. Talvez eu entre para a universidade esse ano, e,enquanto lia, sentia-me mais segura com relação à escolha da minha futura profissão, que, apesar de muita gente falar que não "dá muito dinheiro", sei que é o que eu quero, e vou amar exercê-la!
Beeijo.