15 dezembro 2007

Televisão?

Vou fazer agora uma revelação que vai deixar muitos boquiabertos e de olhos arregalados, como sempre acontece: eu não tenho televisão!
Pois é. E longe de intelectualismos e modismos cult. Acontece que desde maio moro em uma pobre república bauruense. Foi tudo montado assim, na caridade e na malandragem: umas coisinhas ganhamos, outras achamos por aí e levamos pra casa. Mas TV ninguém deu, e como não moramos no Japão, não encontramos nenhuma TV por aí, nos entulhos da vida.
No começo, foi complicado: silêncio, passos do cachorro do apartamento de cima, vento na janela, o chuveiro ligado. Eu ouvia todos os sons da casa. À noite, batia uma solidão...
Como não tínhamos o que fazer à noite, naquela hora em que se chega da aula, coloca a bolsa sobre a mesa e procura-se algo para comer, começamos a conversar. Conversávamos sobre livros, festas, cds, porres, balões e tudo o mais que pode ser definido por palavras. Longas conversas e longos CDs rolando!
Aproveitávamos para ler. A casa foi se enchendo de livros e nós, de assuntos.
E como eu volto para a casa dos meus pais somente nos finais de semana, e é sempre a mesma correria: sair com os amigos antigos, terminar um trabalho, visitar uma tia, fazer um bolo, fazer compras... acabava nem passando em frente do quadrado mágico parado na sala.
Fomos ficando indiferentes um ao outro: a TV lá, eu aqui, nem aí pra ela. E ela nem aí pra mim, já não me atraia mais.
Um dia, na casa da minha vó, sem nada pra fazer, resolvi pegar o controle remoto e apertar power – coisa que não fazia mais parte da minha rotina. Passava uma novela e eu me surpreendi ao ver a Malu Mader fazendo caras e bocas, depois de tanto tempo sem aparecer por ali. E me surpreendi mais ainda quando percebi que eu não sabia mais o nome das novelas. Não sabia qual era o drama das 7 ou o das 8. Nem sabia dos dramas do Jornal Nacional e nem das alegrias da sessão da tarde. E não sabia qual era o filme que ia passar na segunda, nem o show super foda que seria exibido ao vivo. Eu era uma “alienada” e isso não me preocupava nem um pouco. Desliguei a TV e fui sentar no meio-fio, que é uma das coisas que mais gosto de fazer quando a noite vem chegando.
Uns dias depois, cheguei em casa e uma das meninas veio feliz com um cartaz na mão: uma TV em promoção e ela estava pensando em comprar. Sorri pra ela, com aprovação, virei as costas e fui pra sacada – outro habito adquirido nos últimos meses. Fiquei lá olhando a tarde, pensando nas meninas sentadas no sofá olhando pra tela, o barulho apagando o sonzinho da chuva, e confesso que me deu uma tristezinha.

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