02 novembro 2007

Depois

E depois da despedida foi que tudo lhe caiu sobre os ombros, a cabeça. É assim que acontece, às vezes não é bonança que se segue à tempestade, mas sim uma leve tormenta, talvez uma nuvenzinha preta fique lá no céu, incomodando. E assim foi. Passada a tempestade, pensava em como seria amanhã. Acordar sem ele ao lado. Não beijar, não dizer oi, não perguntar se sonhou. Sobraria mais tempo para o café da manhã. Talvez nunca mais chegasse dois ou três minutos atrasada no trabalho. Sobraria tempo no dia, poderia ler, caminhar, voltar para a academia. Poderia dormir mais ao invés de passar tardes conversando ao pôr do sol. E os filmes, como é mesmo ver um filme sozinha? Nem se lembrava mais. E sexo? Como serão os outros? Há anos era aquele o único homem de sua vida. Como beijar outro agora? Os olhares, ah, os olhares dele...E então pensou nas suas unhas que agora certamente voltariam a ser curtas, roídas, pois teria que se preocupar muito mais com o trânsito ou o trabalho do que com a música de hoje, ou onde almoçaremos amanhã, ou se ele fica melhor de vermelho ou azul. Teria que voltar às antigas preocupações. Olhou as unhas ainda compridas, o esmalte claro – porque escuro, segundo ele, deixa com mãos de bruxa – e sentiu saudades precipitadas das belas unhas. É assim, saudade precipitada é ansiedade disfarçada, confusa. Os olhos se encheram d’água por pena das unhas. E olhou pras mãos que agora seriam sozinhas também, sem as outras mãos. Coração apertou, doeu tanto que fez o corpo todo estremecer, inclusive os olhos, que derrubaram todas as lágrimas. E percebeu que chorando ficava feia, cara inchada, nariz vermelho. E sabia que choraria mais e mais. Os outros entenderiam? Ele entendia...E ele perdoava. Sentiu que o tempo livre talvez não fosse valer a pena, os outros não valeriam a pena, as unhas não valeriam. Entre o orgulho e a vaidade, optou pelo segundo e, chorando, escreveu: “Não precisa vir buscar suas coisas.”. Sabia que ao lado dele era muito mais bela.

2 comentários:

Theo disse...

q medo disso =/

Anônimo disse...

Adoro o q vc escreve...que sensibilidade vc tem...como suas palavras tocam profundo...