21 novembro 2013

tristeza do jeca



quando eu era criança, ouvia essa música na vitrola da casa do meu avô. quem cantava era tonico e tinoco, era sítio, entrava uma luz alaranjada pela janela e a gente sentava no chão da sala. meu avô às vezes parecia que não me via, nem enxergava mais nada. era só a música e a luz laranja, e ele no mundo dele. eu no meu, cada qual no seu e uma felicidade sobre a gente, nos ombros, na cabeça, a felicidade calma e tátil. no raio de luz que escorregava pela janela pra dentro da sala pairavam partículas de poeira, e eram pra mim felicidades materiais dançando no ar. eu olhava praquilo tudo com sossego. felicidade era isso: a gente podia ver.

meu avô morreu faz nove anos e a vitrola nunca mais tocou. a internet é uma benção, o youtube um labirinto e ontem entre uma música e outra sem querer cliquei nessa. que eu nunca soube que tinha esse nome. quando reconheci o som, chorei. foi o clima de fim de ano, essa felicidade que fica pairando no ar, mais a saudade.

hoje, tempo de ser mais feliz é fim de ano, quando as coisas andam devagar e aquela felicidade tátil e morna ressurge junto dos bichinhos de luz e das luzes de natal.

a gente vai embora de onde nasceu, cai na vida, mas tem sempre um anzol nos fisgando praquilo que a gente foi.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lembrei da minha infancia