30 setembro 2013

Amiga,

Eu queria estar por perto para te fazer um bolo, comprar pãezinhos, ou dividir com você um café da manhã naquela padaria que você faz questão de me levar, e esquecer que a vida tem dessas coisas. Esquecer que quem se deixa levar pela vida tem mais é que estar a postos, pés firmes, para a rasteira que vem. Mas eu sei que logo, mais uma vez, você esquece e se deixa levar de novo, e de novo. E por saber que logo você se deixar levar (por mais que sofra, se abale e perca noites de sono) eu me sinto aliviada por me ater aos meus problemas e deixar que esses quilômetros atrasem um pouco meu abraço que agora você tanto precisa.

Sua tristeza me comove e me entristece, mas me alivia. Porque em você até a tristeza é bonita. Você encara ela de frente e logo desvia o olhar como quem diz: aqui não. Então, você segue, faz suas coisas, se fecha no seu mundo, morre um pouco, para depois voltar linda como sempre, acreditando como sempre, sorrindo como sempre e distribuindo amor. Isso quando você não abusa dessa tristeza e faz com ela poesia.

Toda vez que um amor acaba eu acabo um pouquinho, porque eu acredito em romances, em eu te amo, em saudade verdadeira. Quando você me contou do seu fim eu entristeci, mas logo lembrei que se tratava de você, e em se tratando de você a desilusão nunca chega, o amargo passa longe, porque a vida é maior e você tem os olhos lindos que parecem que nunca sofreram, e que gelam a alma de quem não entende de sentimentos.

Eu queria ter vivido mil amores mais para poder agora sentir teus cabelos no meu colo e falar com toda a convicção que há neste mundo que amor é assim mesmo, e logo vai passar. Mas eu não posso porque assim como você eu ainda vivi pouco deste muito a viver que a gente tem. E assim como você, também escondo de mim mesma os amores que me machucam, e escondo tão bem que fica até parecendo que nunca me feriram e roubaram apetite. Sobram-me poucos conselhos sobre amores que deram errado: para mim, eles sempre deram certo, assim como para você.

***

(igual a sobrevivente voltando da guerra)

Um comentário:

Anônimo disse...

Adoro!