13 agosto 2013

catchup

quando eu era criança queria uma barbie sereia, daquelas com cabelão que muda de cor de acordo com o ambiente. você coloca na água quente, por exemplo, e vão surgindo mechas alaranjadas. dai você seca e aparecem mechas cor de rosa. como fui uma criança pobre tive que me contentar com a barbie sereia das amigas.

o tempo passa, a gente supera os brinquedos que não teve (e também os que teve, tipo o fofão), arruma trabalho, se estressa, se matricula na ioga, tem filhos e começa a fazer cooper aos domingos de manhã. enfim, cresce. tem acontecido comigo, e embora eu faça coisas de gente grande o tempo todo, fico constantemente com a impressão de que a vida adulta é uma piada, um engodo. como se ninguém soubesse muito bem o que está fazendo, nem o porquê. a gente coloca uma gravata, dá ordens e fala difícil, sai da empresa e compra um notebook, enjoa da cor do cabelo e faz mechas loiras, porque viu que é assim que se faz. vai cumprindo uns protocolos, liga tudo no automático e aperta o play.

então, às 22h de uma segunda-feira, a vida mostra que sim: é tudo uma piada. pois eu estava de folga em plena segunda-feira, e resolvi ficar na casa da minha mãe. e como adulta estressada, achei justo tomar um banho de banheira. só que, como uma verdadeira adulta já não mais tão estressada, dormi na banheira.

quando sai, aconteceu a mágica. ou a piada. conforme meu cabelo foi secando, surgiram mechas verdes. não verde meio amarelado tipo o orelhão da telefônica. verde tipo trevo de quatro folhas, uma péssima comparação para situação tão ridícula.

e mais uma vez agindo como adulta, fiz uma pizza. depois, claro, procurei no google e nas redes sociais a solução para tirar a cor verde das mechas loiras.

a internet me sugeriu leite ou catchup; e depois lavagem com shampoo.

era então uma segunda-feira de folga, às 22h30, e eu estava debaixo do chuveiro com catchup e um copo de leite: "mãe, traz mais um sachê que só dois não vai dar".

enquanto mentalmente me comparava à barbie sereia.

Nenhum comentário: