11 junho 2011

amor é coisa simples



Toda sala de primeira ou segunda série tem aquele menino loirinho dos olhos azuis ou moreninho do sorriso lindo que vira logo o namoradinho de todas as meninas. Menos o meu. Eu sempre escolhia os das sardinhas no rosto, magrinhos, de óculos. Os que eram amigos do namoradinho-de-toda-menina, e que não recebiam tanta atenção assim daquelas menininhas. Os que faziam coisas esquisitas, como o japonesinho que passava cola verde nos dedos e eu ficava a aula inteira parada, olhando, até a professora dar uma bronca e ele guardar a cola, esperar ela virar as costas e continuar.

Eu tenho poucas lembranças do meu primeiro namorado: o cabelo cortado em formato de tigela, os dentes tortos e o shorts azul. Chamava Leandro e não sabia escrever. Era só a primeira série.

Era dia do mingau cor-de-rosa na escola, eu entrei na fila, peguei meu prato de plástico azul cheio de mingau cor-de-rosa e sentei sozinha na mesa de madeira. Eu era sempre a aluna nova, e naturalmente acontecia de uns dias ficar sozinha até encontrar amigas novas na escola nova. Ele sentou do meu lado, ficou mudo me olhando comer o mingau rosa. Eu permaneci muda comendo o meu mingau rosa, olhando para o prato e brincando de raspar a colher no fundo. Quando acabou, fomos para a sala de mãos dadas e eu sabia: agora ele era o meu namorado.

Passou uma semana e nosso relacionamento estava tão bem que meu namoradinho chamou a professora. Ela abaixou e ele falou no ouvido dela. Do fundo da sala, eu prestava atenção. A tia olhou pra mim e sorriu. Depois, escreveu alguma coisa em um papel e entregou para o meu namoradinho. Ele abriu a mochila, tirou de dentro outro papel. Pegou o lápis da tia e o papel dela. No papel dele, copiava o que ela tinha escrito. Depois, me entregou. Abri o cartão com flores amarelinhas desenhadas e lá dentro estavam as letrinhas tremidas, todas de forma, à lápis: Carol, eu te amo. Ass: Leandro.

Mingau cor-de-rosa e meu primeiro “eu te amo” também são coisas que me lembram o meu primeiro namorado.


*quem me inspirou esse post foi o marquinho, por causa dessa histórinha aqui.

2 comentários:

Marcos Vinícius Almeida disse...

Carol,

Essas filas de merenda são clássicas. Nesse frio então, era sensacional pegar a baciinha quente e ficar soprando enquanto o vapor saía.

Abraço

Michele Matos disse...

Ai que recordação mais fofa desse mundo inteiro!!!! =*