Em 1948 um cara chamado George Orwell escreveu um livro imaginando como seria nossa sociedade no ano de 1984. Ele chutou que o futuro não seria uma coisa muito divertida. Viveríamos sob a vigilância de um governo totalitário que estenderia seus olhares para o interior de nossas casas, através de grandes telas penduradas nas paredes. Nunca saberíamos se a tela nos vigiaria o tempo todo ou somente nos momentos em que o nosso grande chefe político apareceria para fazer pronunciamento e, assim sendo, acabaríamos nos autovigiando.
Eu não sei como era a sociedade em 1984, porque nasci em 1985 e só comecei a reparar nas coisas lá por 88. Mas afirmo uma coisa: com relação à vigilância, o senhor Orwell errou por uns anos e isso não é novidade pra ninguém. Hoje todos sabem que vivemos em uma sociedade vigiada. Há cidades com câmeras em praças públicas e há os malditos celulares com câmera. A discussão sobre segurança x privacidade, que parecia coisa tão moderna, hoje já está bem batida.
Mas eu acho que há uma nova discussão, que sei não se alguém já parou pra pensar: essa tal de sociedade vigiada pode ficar muito chata.
Veja só o caso da dona Ione:
Certeza que você já viu esse vídeo. Se não viu, ouviu falar. Se não, olha só, ta vendo agora. A Ione, assim como todo filho de Deus, saiu pra tomar um chopinho. Tomou um, dois, dez. Tanto faz. E daí, talentosa que é, resolveu mostrara a todos o que sabe fazer. Fosse há 10 anos, os amigos comentariam, a galera da banda chegaria em casa e falaria que uma louca subiu no palco e fim. Mas hoje a Ione está aí, em blogs e twitters, fazendo a alegria da galera.
Tem também a ex do Pedro, que quis armar um barraquinho básico (quem é que não tem vontade de vez em quando?) e nem preciso falar no que deu, né.
Eu sei que todo mundo curte essas coisas porque nos faz sentir mais normais. Faz ver que todo mundo é meio maluco e tal.
Mas eu, que sou super entusiasta da piração esporádica, vejo um grande problema nessa mania de cinegrafar tudo. Todo mundo ai – ou quase – tem família, amor, trabalho, nome pra zelar. Com o perigo de virar o novo ‘mais acessado’ do youtube, as pessoas vão enlouquecer menos. Cantaremos menos, beberemos menos, não correremos pelados. Sobrarão os exibicionistas, que sabem que estão sendo filmados, e isso não tem graça nenhuma.
Seremos todos muito comportados e com uma enorme energia de piração acumulada.
George Orwell sabia o que dizia quando falava da vigilância e do comportamento extremamente regrado. Por isso, queridos, se não querem viver num lugar chato, deixem as câmeras em casa e esqueçam os celulares. Ninguém tem obrigação de ser correto o tempo todo. Todo mundo tem o DIREITO de enlouquecer de vez em quando.
3 comentários:
adorei! vc está certíssima!
ótimo texto e está bem abordado o tema e a sua opnião.
Realmente, em diversos aspectos estamos vivendo em uma sociedade vigília.
Tem os seus pós e contras.
Parabéns
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Abs
MaisEstudo
Em pleno acordo. A vigilância impõe controles extremos... se podemos ser filmados por algo que fazemos, então nos comportaremos de uma maneira diferente, como que para nos adequarmos a algum ideal bem-visto pela sociedade: uma pessoa comedida, educada, civilizada. Mas, no fundo, isso é uma fôrma que nos enquadra e cerceia. Chateia. E é difícil descer ao chão tais muralhas.
E há também o Admirável Mundo Novo, escrito por Aldous Huxley e publicado em 1932. Livro de cabeceira, como o 1984.
Muito bem escrito, parabéns.
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