29 junho 2009

seu moço do disco voador

Um dia eu vou abrir a janela do meu quarto, como faço quase todo dia. Daqui do meu 9° andar, vou olhar para baixo, como é de costume e lá vai estar ele, entre as folhas da grande árvore da calçada da frente: o ET. Ele vai me olhar com seus olhões esbugalhados e eu vou ver sua careca branca e seus dedos magrelos segurando os galhos, fazendo grande esforço para não cair na frente de um pedestre desavisado, coitado do pedestre com sua sacolinha de pão. Eu vou sentir um frio na barriga: aconteceu! Depois, vou sorrir pro ET e então vou gritar para as meninas virem ver também. Vou procurar uma câmera fotográfica, mas não vou encontrar e então, maldosa que sou, vou descer correndo, pelas escadas, sem paciência para chamar o elevador, enquanto uma das meninas continua na janela para garantir-me que o ET não vai fugir e, se fugir, ela vai saber que rumo ele tomou. Na portaria, vou pedir o telefone da polícia, dos bombeiros e dos jornais. O porteiro não vai entender nada e então eu vou contar pra ele, aos gritos, eufórica, que ali, na árvore em frente, tem um ET. Mas, quando eu estiver com o sorriso nos rosto para começar a contar, e com as mãos no telefone para chamar as autoridades, vou desistir, dar as costas para o porteiro e pegar o rumo do portão. O porteiro vai cumprir sua obrigação de porteiro e abrir o portão de ferro. Eu vou descer devagar as escadas e vou atravessar a rua. Vou parar embaixo da árvore, ver a bunda magrela do ET que ainda se segura nos galhos. Depois, vou constatar a cara de espanto do pobre coitado e, como quem faz um gesto universal, vou fazer com as mãos aquilo que quer dizer “vaza”. Ele vai me olhar com cara de interrogação. Eu vou dar as costas de novo, atravessar a rua de novo, subir as escadas de novo e esperar o elevador. Vou voltar para a minha janela e ver, de lá de cima, que o ET se foi. E minha única prova de que um dia eu vi um ET serão as meninas. Ninguém mais. O ET vai ser feliz pra sempre se conseguir voltar pra casa e eu terei um pacto de cumplicidade com ele.


(Mas quando isso acontecer, eu infelizmente não vou poder contar aqui, porque é uma das cláusulas do pacto de cumplicidade: nada de divulgação)

4 comentários:

Michele Matos disse...

Que bom que ainda existem pessoas boas como você no mundo! Afinal você poderia ficar rica com a captura desse ser, mas você sabe que por trás da bundinha magricela e da grande cabeça existe uma vida que não pode ser destruída.

anamariacorri disse...

Pensei no meio: poxa como a Carol ficou má, ela não era assim, essa menina q fez escandalo por uma latinha de chicletes de fita (aula da Rô é cultura Carolesca!) akahuauhauha... eh... adoro seus textos estranhos mesmo uahuahuahuhua
Bjaooo

anamariacorri disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luciano Piccazio disse...

que preconceito... por que os ets tem que ser carecas?