04 junho 2009

Orgulho

Quando ele me falou que estava indo, eu juro que não liguei. Hoje mulher nenhuma precisa de homem pra viver. A noite, na cama vazia, derrubei umas lágrimas que era pra não passar em branco. Lembrei de tirar a aliança .As vezes até ia brincar com ela, como se ainda estivesse lá. Senti por umas horas a mão vazia e, por fim, mais leve.
Dois dias depois, cismei de ver um filme. Eu não sabia o que fazer sem ter com quem comentar uma cena, uma roupa, uma atriz. Chorei de raiva.
Outro dia, fazia compras quando senti um frio na espinha: era falta daquela mão áspera na minha cintura. Eu estava ali, na sessão de congelados e só ele sabia que lá eu sempre sentia frio. A saudade daquela mão me matava: encaixava tão certo na curva da minha cintura. Encaixava tão certo em mim quando eu sentia frio, medo ou desespero. Comprei uma lasanha para dois e chorei de arrependimento pois ia ter que comer sozinha.
Cansei de chorar por bobagem e resolvi arrumar de vez minha vida: limpei os armários. Mas lá no fundo, num cabide misturado aos meus vestidos, estava a camisa azul. Velha, surrada, suada. Eu não preciso de homem, mas precisava ter motivos pra pôr aquela camisa e ir cozinhar uma coisa gostosa pra dois. Peguei a camisa, pra rasgar e jogar no lixo. Chorei de raiva por ele ser tão esquecido e não ter levado aquilo embora. Chorei de raiva por eu não ter verificado no mesmo dia se aquele maldito não havia deixado nenhum vestígio. Chorei de saudade das noites em que aquela camisa foi meu pijama e que aquela mão áspera se aconchegava na curva da minha cintura.
Hoje eu olho essa marca branca onde antes ficava a aliança. Tudo que faço é chorar

5 comentários:

Michele Matos disse...

Tão bonito e tão triste.
=/
A marca do dedo um dia sai...
do coração também...

Lara disse...

Amei o texto!
Retratou certinho as fases que agente passa quando termina algo: a negação, o cair da ficha, o sofrimento, que pode se arrastar por um longo tempo ou que pode ser substituido pela simples aceitação do fim...

Anônimo disse...

Ao ler fiquei triste, como em uma triste lembrança que aos poucos era minha... não sendo.
... a dialética, a poética e uma nobre disléxica.

anamariacorri disse...

Pq faltava um fã comentar...
Os fans adoooram a Carol! ahuhuaha
Bacardi na casa da Carol, galera! kkk
bjo, coração!

Anônimo disse...

Carol, Carol! =)
Não achei triste. Achei lindo.
Embora há na beleza qualquer coisa assim de tristeza.

Parabéns e continua.
Grato por ler você.

Um abração e um beijo.

Se cuida!