06 março 2013

James Dean e Charlie Brown

Quando se tem 13 anos e nenhuma vocação para filhinha linda do papai, a gente vai buscar o caminho contrário, um jeito de se rebelar contra a família e mostrar que manda (ou pensa que manda) na própria vida. E em 1998 ou 99 isso significava matar aula, beber pinga escondido às 3 da tarde, fumar maconha, passar silvertape no tênis e perder horas tentando acertar uma manobra no skate. Tinta no cabelo, piercing na sobrancelha e um namorado tatuado, maconheiro e fedido também eram bem-vindos.

E num certo abril de 99, lá estava eu com minha calça rasgada gastando tempo na pracinha da igreja quando apareceu o príncipe encantado versão James Dean anos 90: alto, loiro, olhos azuis e cabelo bagunçado. O tipo perfeito pra se dar o braço numa festa e fazer pose de rebeldinha diante do mundo: o moço era sete anos mais velho e tinha fama de maconheiro.

Foi nessa época que a gente ouvia Green Day, Blink 182 e Charlie Brown naquelas festinhas de garagem com vinho chapinha e vodka barata misturada com fanta. Em cidade de 20 e poucos mil habitantes, esse era o auge da diversão nos fins de semana.

Então aconteceu dos caras do Charlie Brown invadirem a cidade vizinha e eu fui pro primeiro show da minha vida, o que aos 13 anos já é um arraso. O James Dean anos 90 estava lá e me deu um beijo na frente de todo mundo, dos amigos maconheiros dele e da minha amiga perplexa. Depois, ainda fotografou um sorriso meu. Vitória maior não havia.

Só que o James Dean não era só um maconheirinho que leva bronca quanto tira nota baixa, ele era errado de verdade. E meu pai era delegado. Um dia, numa batida policial na casa do James, a equipe da polícia encontrou na porta do guarda-roupas uma foto especial: euzinha sorrindo, com os olhos brilhando pro meu príncipe, ao som de Charlie Brown.

À frente da operação que derrubou o barraco do James estava meu pai. Claro que ouvi dele coisas que até hoje me lembro com frio no estômago e arrepios. Claro que fiquei dias sem sair de casa e meu romance com James afundou, tanto pela distância, quanto pela prudência de ambas as partes. Não é fácil ser filha de xerife.

Daí porque a morte do Chorão é uma coisa esquisita. Não tanto pelo cara, ou pela música, mas porque a gente vê que todo mundo cresceu mesmo, e que, de agora em diante é assim: perder coisas, próximas ou não.

5 comentários:

Thiago Avaré disse...

Ser filha do delegado não é fácil hein, Carolina?

Michele Matos disse...

Gente!
E por onde anda o James heim?

Carol disse...

as últimas notícias que tive é que james casou e tomou jeito na vida. continua lindo.

Mônica disse...

perder coisas e manter coisas e descobrir coisas, próximas ou não. a gente ta crescendo sim, e o james pode nao ser mais patrimônio público, mas a vida é boa. a gente aprendeu a fazer ela assim! se tocar charlie brown, a gente dança!

Carol disse...

ahaha chateadas quando deixou de ser patrimônio público.